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"O senhor...mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas estão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão." João Guimarães Rosa

terça-feira, 6 de julho de 2010

O que é Geopolítica?

A Geopolítica, como foi concebida no século XIX e ampliada nas primeiras décadas do século XX, serviu de instrumento para análise estratégica dos Estados que impediam ou criavam barreiras para a concretização dos interesses da burguesia alemã. Dessa forma, ela foi a base da política externa organizada pelo Estado alemão expansionista. Serviu também, sob o ponto de vista interno, para conter aspirações populares e reforçar a dominação da burguesia industrial e banqueira, utilizando-se para isso de uma ideologia nacionalista de direita.
O uso da Geopolítica para justificar reivindicações territoriais, invasões, anexações, guerras e pilhagens, do final so século XIX até a Segunda Guerra Mundial, marcou negativamente o termo, o que explica o fato de o importante estudioso brasileiro Nélson Werneck Sodré definir a geopolítica acadêmica como "a geografia do fascismo".
Hoje, os estudos didáticos de Geopolítica analisam a organização dos Estados, suas particularidades e sua distribuição pela superfície da Terra. Verificam a forma de definição e evolução das fronteiras, além dos tipos de organização espacial e territorial que elas originam. Para isso, analisam as guerras e os conflitos, os tratados e os acordos internacionais que marcam a evolução das nações modernas, estudando suas relações de força, expressas pelas transformações de suas fronteiras.
Dessa forma, a Geopolítica se vale da interdisciplinaridade com a cartografia e a história para poder explicar a evolução e o traçado atual das fronteiras mundiais. A Geopolítica moderna transforma-se, assim, em um importante instrumento de compreensão crítica do mundo contemporâneo, bem diferente do que foi até a Segunda Guerra Mundial.
De certa forma a Geopolítica é a ciência da estratégia. Nos dias de hoje, com o desenvolvimento do capitalismo monopolista, e consequentemente das grandes corporações transnacionais não interessa apenas analisar as influências dos Estados. Torna-se fundamental, para compreenderos acontecimentos modernos, o entendimento da atuação dos grandes grupos financeiros, de sua expansão espacial, de suas técnicas de ocupação e de controle de mercados e tecnologias. Tal aspecto interliga profundamente os estudos geopolíticos com os geoeconômicos.
Fonte: Sistema Anglo de Ensino - Adaptado por Janaina Bellotti

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Geografia: Origem e Evolução

Inicialmente, a Geografia foi definida como o estudo da superfície da Terra. Essa escolha de objeto de estudo se assentava no próprio significado etimológico da palavra geografia (do grego: geo = Terra; grafia = escrever/descrever). Mas, para entender a superfície da Terra, a Geografia recorria aos conhecimentos de outras ciências, capazes de descrever sua complexidade, realizando uma integração de informações.
Afirma-se que a Geografia nasceu na Grécia, com a expansão territorial e com os relatos de seus viajantes. O grego Heródoto (484-420 a.C) é considerado o pai da Geografia e da História. Em sua obra principal, História, descreveu as paisagens e os povos que encontrou em suas viagens, criando o método fundador da chamada Geografia Regional. Nela realizou as primeiras explicações geográficas, relacionando as cheias do Nilo com a formação dos solos férteis de suas margens, e a criação do seu delta com a sedimentação milenar.
Nessa mesma época, nasceu outro ramo da geografia, denominado Geografia Geral ou Geografia Matemática, preocupada com a posição da Terra no universo, suas dimensões e representações cartográficas. Erastóstenes (276 - 194 a.C) calculou a obliquidade da ecliptica e o valor da circunferência terrestre, sendo o primeiro a se denominar geógrafo. Em sua obra Geografia, dividia a Terra em três partes e afirmava que o homem habitava o seu terço superior, equivalente à Europa. Criou o termo ecúmeno, para indicar esses locais habitados pelo homem, e apontou a possibilidade da existência de terras desconhecidas ao sul deles. Inventou ainda o primeiro sistema de coordenadas geográficas, com paralelos e meridianos.
Um pouco mais tarde, Estrabão (64 a.C - 21), que vivia em Roma, escreveu a mais extensa e importante obra da Antiguidade, denominada Geogragraphica, na qual descrevia grande parte do mundo conhecido na época. Foi o primeiro a apontar o caráter interdisciplinar da geografia. Criou um método de trabalho seguido durante séculos: localizar, delimitar e apontar os aspectos físicos da região em estudo, para depois estudar sua população, seus costumes e suas atividades econômicas. Defendia o uso da Geografia de uma forma pragmática, ou seja, útil aos interesses dos administradores do Estado romano.
Na Idade Média, o legado europeu de conhecimento geográfico foi relativamente restrito, sendo considerada a contribuição mais importante a de Marco Polo (1254 - 1324). Ele descreveu suas viagens ao Oriente e trouxe para a Europa diversas mercadorias e técnicas inovadoras, originárias na China. Durante esse período, a maior produção geográfica foi centralizada pelos árabes, fortalecidos econômica e culturalmente pela expansão islâmica. Destacaram-se Al Idrisi (1099 - 1166), que viajou pela China e pela África, criando um sistema de análise de climas, e Ibn Khaldun (1332 - 1406), que analisou a ascensão e a queda dos impérios construídos por povos guerreiros nômades, dominadores de povos sedentários dos oásis.
Na Idade Moderna, com as Grandes Navegações e o Renascimento, houve uma quebra do dogmatismo medieval, ampliando-se os conhecimentos relacionados à Geografia. As mais importantes conquistas foram a descoberta e o mapeamento das novas terras, a invenção da imprensa, que facilitou a difusão de informações, o aperfeiçoamento da cartografia e o nascimento das concepções heliocêntricas.
No final do século XVIII, Immanuel Kant (1724 - 1804), considerado o fundador da Geografia Moderna, classificou o conhecimento geográfico como uma das partes principais do conhecimento humano. Segundo ele, a geografia estuda as coisas associadas ao espaço, sendo uma ciência de síntese (unindo informações de várias ciências) e descrição (que apenas enumerava, mas não analisava seu objeto). A geografia Física, que englobao homem, seria uma resumo da natureza e a base da história, havendo ainda outras partes no conhecimento geográfico.
No início da Idade Contemporânea, surgiu a doutrina do Determinismo, segundo a qual o homem seria resultado exclusivo das forças da natureza, ou seja, do meio ambiente em que vive. Em verdade, é uma filosofia muito antiga, que encontra suas primeiras manifestações na obra de Hipócrates (Ares, águas e lugares) e na de Aristóteles (Política). Com o desenvolovimento da biologia no século XIX, especialmente após Darwin, muitos estudiosos passaram a explicar todas as diferenciações humanas a partir das forças da natureza.
Com o desenvolvimento científico e econômico, impulsionados pela Revolução Industrial, a Geografia passou por profundas modificações. Na Alemanha, foram estabelecidos seus primeiros princípios científicos e metodológicos. Graças a isso, a Geografia passou a ser vista como ciência, o que permitiu que ganhasse mais status e passasse a ter uma cátedra universitária. Nessa época, sugiram as primeiras escolas geográficas.
A Escola Geográfica Alemã ficou conhecida como Determinista, pois muitos de seus seguidores acreditavam ser o Homem determinado pelo meio natural. Teve como maiores expoentes:
  • Alexander von Humboldt (1769 - 1859), que traçou uma filosofia da natureza com base na geografia experimental, por ele criada e praticada. Utilizava um método de pesquisa empírico racional, ou seja, a explicação como produto da observação. Assim, propunha que o geógrafo realizasse uma observação sistemática da natureza e dela retirasse, usando o do raciocinio lógico, a explicação dos fenômenos, suas causas consequências e conexões. Grande viajante, publicou várias obras, sendo considerado fundador da Biogeografia;
  • Karl Ritter (1779 - 1859), primeiro professor universitários de Geografia, na Universidade de Berlim, desenvolveu a Geografia Humana. Aplicou diversos princípios desenvolvidos por Humboldt. Em sua Geografia Humana afirmava que o papel do geógrafo é o de gravitar entre o homem e a natureza, dois termos perpetuamente associados.
  • Friedrich Ratzel (1844 - 1904), também alemão, sofreu influência do pensamento evolucionista de Darwin e do ambientalismo ecológico de Haeckel. Afirmava que era importante estudar a Geografia Humana para entender a influência do meio sobre a formação das ideias e das sociedades que nele viviam. Acreditava que o homem estava submetido às forças da natureza, criando espaços onde se organizava as sociedades e Estados. Assim, segundo ele, se o homem é determinado pelo meio, a sociedade e o Estado também o são. Dessa forma, concluiu queo espaço é vital para a existência do Estado, portanto, seu domínio torna-se fundamental. Essa teoria viria mais tarde a se constituir na base ideológica para a expansão imperialista.

Ainda no século XIX, em oposição à filosofia Determinista, desenvolveu-se a escola Francesa, também chamada de Possibilista, já que defendia a ideia de que o Homem era capaz de transformar o meio ambiente. Trata-se de uma doutrina filosófica que afirmava ser o homem um animal racional, que não está passivo frente à natureza, mas sim ativo, que se adapta às condições do meio sendo capaz de modificá-lo, segundo seu grau de domínio da tecnologia. Os defensores dessa corrente afirmavam que o homem, através de sua iniciativa, escolhe, dentre as inúmeras possibilidades que a natureza lhe oferece, aquela que melhor se adpta às suas necessidades e capacidades.

A Escola Possibilista desenvolveu-se como uma crítica às teses deterministas de Ratzel, tendo como pano de fundo a derrota da França na guerra com a Prússia. Com base nas ideias geográficas deterministas, que teorizam a necessidade do espaço vital, aliado a outras causas, a Alemanha havia vencido a França na Guerra Franco-Prussiana, em 1870. A eficácia da Geografia alemã revelou-se no campo de batalha, ficando evidente que o conhecimento do espaço foi essencial para a sua vitória, que se concretizou graças à excelente cartografia, à qualidade dos meios de transporte e de comunicações desenvolvidos pelos alemães.

Em resposta, o ensino de geografia passou a ser reforçado em toda a França, criando-se um debate nacional, com inflamadas discussões críticas a respeito da Geografia alemã. Estava nascendo, nesse clima nacionalista, a Geografia Possibilista francesa, que iria se contrapor ao determinismo alemão. O ponto máximo de sua ascensão ocorreu com a vitória da França sobre a Alemanha na Primeira Guerra Mundial (1914-19198).

Vidal de La Blache, um dos maiores expoentes do Possibilitismo francês, afirmava: "nada de fatalismos, mas apenas possibilidades". Em 1900, ele assumiu a cátedra de Geografia na Universidade de Sorbonne, em Paris. Suas palavras e seus textos tornaram-se praticamente o discurso teórico oficial da Geografia francesa. Continuou com a base empírica de coleta de dados, método criado pela Geografia alemã, mas se apoiou em uma lógica, desenvolvida pelo sociólogo positivista Émile Durkheim, que afirmava ser a sociedade um todo único, formado por partes, que compõem uma unidade estável e harmônica. Assim sendo, as partes em disfunção precisam ser reintegradas, por meio de mescanismos de controle social.

Fonte: Sistema Anglo de Ensino - adaptado por Janaina Bellotti